A internet revolucionou o mundo do trabalho, a maneira como estudamos, como consumimos informação e como nos expomos no mundo. Se ela foi capaz de mexer com as estruturas sociais não seria diferente com os relacionamentos humanos e, também, com as relações amorosas. É claro que a transformação em si não é o problema. A questão é que nós nos acostumamos com a velocidade com que as coisas mudam. Estamos aderindo isso dentro dos nossos relacionamentos. As perspectivas, os pontos de vistas, as verdades científicas, as evoluções tecnológicas, tudo se transforma de maneira exponencial e, infelizmente, estamos trazendo essa forma de experienciar o mundo para os relacionamentos amorosos. Tudo tem se tornado efêmero, simples, vazio e descartável.

O filósofo e sociólogo polonês, Zygmunt Bauman, descreveu esse fenômeno em seu social best-seller amores líquidos. A obra é fundamental para compreender as relações afetivas da atualidade. Apesar de ter sido lançada em 2003,  está cada dia mais atual e relevante.

 

A tecnologia aproxima e afasta as pessoas

É muito comum ouvirmos que a tecnologia está afastando as pessoas do contato físico, das conversas presenciais e da interação real. Mas, ao mesmo tempo, também ouvimos muitas histórias de casais que se conheceram por meio da internet, iniciando seu relacionamento de forma virtual. A utilização de aplicativos de relacionamento para encontrar parceiros, iniciar um relacionamento ou mesmo para manter um namoro à distância é cada vez mais usual. 

Uma pesquisa feita nos Estados Unidos pelo Pew Research Center indica que 41% dos jovens da geração Z, entre 20 e 35 anos, sentem-se mais próximos de seus parceiros por conta dos recursos tecnológicos. Mas, 74% afirma que a internet e as redes sociais impactam no relacionamento. Portanto, a tecnologia é tanto capaz de afastar quanto aproximar as pessoas. O que determina o modo como ela vai interferir na sua vida amorosa é como você mesmo aprende a lidar com as ferramentas que estão disponíveis.

 

O fenômeno tinder das relações líquidas

Imagine-se em um cenário onde você está solteira ou solteiro. Para encontrar pessoas e iniciar novas relações você decide instalar o tinder ou algum outro aplicativo de relacionamento. Uma ferramenta simples para você encontrar um parceiro ou parceira, que te livra da necessidade de ter que fazer isso em ambientes reais. Assim, você pode, do conforto da sua casa, no trajeto para o trabalho ou no intervalo das aulas da faculdade, buscar alguém que “combine com você”.

A tecnologia se torna, portanto, uma facilitadora do processo. Ela ainda ganha pontos extras já que ajuda a quebrar uma barreira muito inibidora: o medo de ser abertamente rejeitada(o). Trazendo assim a segurança e o conforto de não precisar se expor de verdade, uma vez que o aplicativo só abre a interação para conversa depois que ambos os lados já demonstraram atração e interesse mútuo. 

No entanto, quando você vence essas primeiras etapas e começa um namoro sério, a tecnologia pode se tornar uma ferramenta de contato e aproximação, mas, ao mesmo tempo,  também pode ser uma grande inimiga do relacionamento duradouro. Primeiro porque ela compete por sua atenção. Segundo porque sua experiência te diz que é simples encontrar um novo parceiro, já que o aplicativo está cheio de oportunidades. 

Assim, ela pode transformar os relacionamentos duradouros em efêmeros e descartáveis.  Ao menor sinal de conflito ou desinteresse, ao invés dos casais conversarem, discutirem, argumentarem, chegarem a um acordo e resolverem a questão, eles terminam. É mais fácil romper e recorrer novamente a tecnologia. E, o maior problema desse comportamento é que a tendência é ele se tornar um padrão, onde o ciclo se repete indefinidamente.

 

Como evitar que a tecnologia se torne um problema no seu relacionamento?

É claro que a tecnologia não é a grande vilã das relações. Na verdade, essas ferramentas são neutras. A maneira como as usamos é que determinam se serão boas ou ruins para nós. Para evitar que a internet seja uma problema no seu namoro ou casamento, eu listei algumas condutas e comportamentos que podem ser adotados. Confira!

 

1. Cuidado com a projeção e a expectativa

Essas são as principais barreiras de todo relacionamento que pode ser potencializado com as relações virtuais. Se você conhecer uma pessoa online, faça o encontro presencial acontecer o quanto antes. Claro que você deve observar as questões de segurança ao encontrar-se com um estranho ou estranha. Como, por exemplo, marcar o encontro em um local público. Mas, o quanto antes você tornar essa interação algo real, menores serão as chances de criar expectativas e projeções irreais sobre a pessoa. Então, salve seu futuro relacionamento dessa armadilha!

 

2. Valorize todos os aspectos da comunicação

Conversar com o parceiro é a melhor maneira de criar vínculos e construir a relação. O fato da internet ser uma ferramenta de comunicação não a torna capaz de construir esse vínculo. Afinal conversar significa muito mais do que falar e ouvir. A comunicação não verbal, a voz, a cadência das palavras, a linguagem corporal, o contato de pele. Tudo isso faz parte da comunicação em um relacionamento. Quando a conversa acontece exclusivamente pelas vias virtuais é impossível reproduzir todos esses aspectos. 

É claro que os casais podem e devem utilizar os aplicativos de mensagem para conversar e interagir. Mas valorizar essa conexão, que é criada presencialmente, é indispensável para um relacionamento saudável. Os emoticons existem para expressar o que as pessoas estão sentindo. No entanto, eles nunca serão suficientes para  expressar os sentimentos e as emoções mais complexas.

 

3. Cuidado com o ciúme

Sabendo que as oportunidades estão a um clique e a possibilidade de  não serem uma exclusividade na vida de seus parceiros também, muitas pessoas enxergam a presença virtual como uma rival e competem com ela pela atenção. O ciúme das redes sociais. O medo do abandono e o risco eminente de tornar-se desinteressante contamina as relações. Fazendo com que aquele ciclo de rompimento se concretize. 

Cultive a autoconfiança, o autoamor e a intimidade. Busque conversar sobre tudo, inclusive, sobre o medo de não ser suficiente. Checar o perfil do outro várias vezes ao dia, monitorar a presença online e com quem essa pessoa está se relacionando virtualmente pode se tornar uma obsessão. Não é saudável!

Se a tecnologia já é parte inerente nas nossas vidas e relações devemos aprender a lidar com ela de forma produtiva, construtiva e conciliadora. É simplesmente impossível ignorarmos o espírito do nosso tempo e tentar construir algo paralelo a realidade, mas podemos agir diante das circunstâncias, transformar nossas próprias atitudes e adotar comportamentos que sejam positivos e benéficos para nosso bem-estar e de todos a nossa volta.