A adolescência é uma fase de transição entre não ser mais criança, mas ainda não ser adulto. Mudanças físicas, psicológicas e sociais, somadas ao aumento da responsabilidade, ao aprendizado e a falta de habilidade emocional, tornam esse período cheio de conflitos externos e internos. Como se já não fosse difícil ter que lidar com tantas transformações, a geração Z, jovens nativos digitais – nascidos entre 1990 e 2010, precisam se descobrir e amadurecer no ambiente digital. Conectados 24 horas por dia, sete dias por semana.

 

É claro que a internet é uma ferramenta poderosa, que amplia as possibilidades de aprendizado, de relacionamentos, de acesso à informação, de expressão de pensamentos e ideias. Mas, ela também apresenta muitas ameaças. Principalmente para os jovens que ainda estão no processo de autoconhecimento, descobrindo suas emoções, seus limites e sua sexualidade. 

Para os adultos que já passaram dessa fase é quase impossível se lembrar do quanto pode ser confuso e assustador ser jogado no mundo real, mas ainda preservar a ingenuidade e a imaturidade da infância. Para os pais, o desafio é duplo: educar os filhos na fase em que passam a ressignificar os aprendizados da infância por meio da contestação, do conflito e da descoberta do “EU” e da individuação, com o adicional da internet e da vida online. 

 

Quais são as maiores ameaças do mundo digital para a geração Z?

Redes sociais

Contrariando a proposta da maioria das redes sociais que é conectar pessoas, gerar relacionamento e multiplicar informação, os adolescentes, que passam muitas horas online, parecem estar cada dia mais desconectados do mundo. Hipnotizados por seus celulares, parecem saber interagir apenas a partir da tela. De acordo com a pesquisa Social Media, Social Life, realizada em 2018, 68% dos jovens de 13 a 17 anos, preferem enviar uma mensagem de texto do que conversar pessoalmente.

Mas, por que isso é um problema? A interação humana e as relações interpessoais são ferramentas que nos conduzem a identificarmos e compreendermos nossas emoções. Ao ver outras pessoas reagindo aos sentimentos e situações, podemos ter uma melhor noção sobre o que sentimos. Outro grande problema dos jovens passarem muito tempo no mundo virtual é que aos poucos se perde a noção do que é vida real e do que é apenas uma ilusão, uma construção.

As redes sociais são um recorte da realidade. As postagens no Instagram são um momento congelado e editado. Mas, é fácil para os adolescentes que estão do outro lado da tela, com poucas referências do que é a “vida real”, confundir aquela experiência fragmentada com a realidade.

Ansiedade, depressão, insatisfação com o próprio corpo, distúrbios alimentares, autocobrança excessiva. São alguns dos distúrbios que podem surgir em decorrência do uso excessivo de redes sociais.

 

Dependência virtual

Já existem alguns distúrbios atribuídos exclusivamente ao estilo de vida hiperconectado. O mais famoso deles é o FOMO (Fear Of Missing Out). Em uma tradução livre significa o medo de ser deixado de fora. Podemos interpretar esse transtorno como o medo de estar perdendo algo mais interessante, de estar sendo deixado de lado e não pertencer ao grupo. Descrita pela primeira vez no ano 2000, essa síndrome é o principal sintoma de uma pessoa que está viciada nas redes sociais.

Checar o feed a cada cinco minutos. Rolar a timeline por horas. Comparecer a um evento e só pensar nas fotos para o Instagram. São sintomas de quem está dependente do ambiente virtual, por exemplo.

Outra disfunção psicológica em decorrência da vida digital é a Nomofobia ou medo de ficar sem o celular. Que pode ser interpretado tanto para ficar sem bateria quanto sem conexão com a internet.

Um estudo apresentado em 2014 por Fernanda Davidoff. Intitulado O Impacto do Uso de Mídias Digitais na Qualidade de Vida de Adolescentes revelou que 68% dos adolescentes ouvidos na pesquisa sofriam de dependência moderada em relação às tecnologias atuais (smartphones, tablets e internet). Enquanto que 20% enquadraram-se como dependentes graves.

 

Viciados em likes

As ferramentas de interação das redes sociais são programadas para nos manter cativos a plataforma. Postar uma foto e conferir quantos likes, comentários estamos recebendo é um hábito comum de todos os usuários. Mas, para os adolescentes esse processo de se sentir validado apenas quando recebe o “like” alheio pode se tornar ainda mais doloroso. O problema é tão grave e gera tantos distúrbios para a saúde e a para a auto imagem que esse ano o Instagram fez uma atualização importante e muito contestada. A plataforma ocultou o número de curtidas nas fotos. Evitando portanto que os usuários façam comparações entre si. 

 

Conteúdo publicitário

Pensado exclusivamente para nos influenciar, o conteúdo publicitário conduz conversas e gera impulsos de consumo ou opinião em nossas mentes. Os adolescentes estão muito mais suscetíveis a serem influenciados pelas opiniões alheias, pela sedução das marcas e também por discursos perigosos como o preconceito, a misoginia, a exclusão de classes, etc.

 

Como proporcionar uma internet segura?

O primeiro passo para superar os desafios de educar um filho nativo digital é criar um ambiente de confiança, diálogo e respeito a individualidade. Orientar os adolescentes sobre as ameaças e estar sempre atento ao tipo de conteúdo e interação que esses jovens estão consumindo e criando. Ensinar sobre perfis fakes, sobre notícias falsas, sobre fontes de informação confiáveis e sobre como fazer checagem da informação são alguns caminhos interessantes. Pode parecer estranho, mas aprender a distinguir a realidade não é tão simples quanto parece.  Se torna mais fácil quando eles aprendem a comparar e perceber o que é fabricado do que é real.

Orientar sobre a privacidade, sobre informações pessoais e sobre a intimidade também é extremamente relevante. Eles precisam aprender a se proteger dentro do mundo digital. Do outro lado, também precisam aprender a respeitar as outras pessoas e colegas. O Cyberbullying deve ser combatido. Os adolescentes são as principais vítimas e os principais agentes ativos desse crime virtual. Os pais e orientadores pedagógicos precisam ensinar sobre os limites legais e ilegais do ambiente virtual. Mostrar que eles serão  responsáveis por um crime cometido na internet, da mesma forma que um crime cometido fora dela.

Para os mais jovens existe ainda a possibilidade de restringir o acesso à páginas que contêm conteúdo impróprio de acordo com a idade. Limitar o acesso, criar restrições de horários e períodos e instalar softwares de segurança são algumas possibilidades. Mas, o mais importante é que os pais e orientadores saibam que nada substitui a orientação, o diálogo e o vínculo de confiança.

Algumas ferramentas para acompanhar a atividade online são: Youtube Kids, Netflix Kids, Google Family, etc.

 

A terapia pode ser uma ferramenta nesse processo de descoberta

Em vez de reunir, as telas podem criar um gap geracional. Afastando adultos dos adolescentes nessa fase tão relevante para o desenvolvimento humano. Nesse sentido, a terapia pode ser uma ferramenta de aproximação. Um ambiente seguro para que os jovens possam refletir e discutir sobre seu processo de individuação.

Com tantos alertas para a segurança parece improvável proteger os adolescentes dos perigos online. Mas, acredite, a internet é uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento dos jovens. Proibir não é o melhor caminho. Ao conhecer os riscos e ameaças podemos ajudar os adolescentes a fortalecerem sua saúde mental e emocional. Além de desfrutar de todos os benefícios de estarem sempre conectados.