Adolescência e sexualidade: a descoberta do corpo na geração digital
Ser adolescente no mundo digital é ter que viver uma fase de transformações físicas, sociais e emocionais conectado à internet vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Mas, a adolescência também é marcada pela descoberta e pelo desenvolvimento da sexualidade. Nessa fase, os jovens precisam aprender a lidar com muitas novidades. Que vão desde as mudanças no corpo até as novas perspectivas de desejo, prazer, interesse, comunicação e relacionamentos.
São muitos os conflitos internos e externos vividos por essa geração que precisa entender e descobrir a própria sexualidade conectados em tempo integral. Eu listei abaixo cinco tópicos que fazem parte da descoberta da sexualidade para os jovens. Vamos conversar sobre esses temas? Descobrir juntos ferramentas para amparar e guiar os adolescentes nessa fase da vida?
Corpo, imagem corporal e sexualidade
A puberdade reserva muitas mudanças corporais. O corpo passa a secretar novos hormônios, amadurecer no sentido de tornar-se adulto e fértil, adquirir formas e pelos pubianos, mudança da voz, entre outras inúmeras transformações. Essa fase de transição biologicamente dura entre 5 a 6 anos. Mas diante do mundo conectado o intervalo se torna mais curto. As novas gerações, acostumadas com a velocidade e instantaneidade da internet, estão acelerado de maneira exponencial as mudanças da puberdade.
O desenvolvimento da sexualidade passa pela descoberta do próprio corpo, do corpo alheio, do desejo e também pela autoimagem corporal. Essa percepção que está diretamente relacionada com a construção da autoestima e a valorização positiva de si mesmo são elementos fundantes da sexualidade. O problema é que para os jovens nativos digitais, a concepção sobre o que é ser bonito e desejável não acontece mais na observação de si mesmo e do outro. Mas sim na comparação inatingível de modelos irreais. A autoestima, o desejo e noção de imagem corporal passa a ser formada a partir da opinião e validação alheia. Essa, por sua vez, deve aprovar ou rejeitar características que estão dentro de um padrão único e inatingível de beleza.
Pornografia
O estímulo para a experimentação sexual e para a descoberta do desejo são fundamentais para a descoberta da sexualidade e do prazer. Mas, ao invés de percorrerem o caminho saudável em busca dessa descoberta, os jovens estão reduzindo o estímulo a libido ao mero ato de consumir pornografia.
Alguns elementos saudáveis para a descoberta da sexualidade são: a evolução do autoerotismo. Os estímulos do prazer e da libido. O toque e a masturbação. O apelo da sensualidade e da comunicação não verbal. A experimentação sexual. As novas percepções sobre si mesmo e a busca por afetividade e intimidade.
Simplificar todas as incontáveis possibilidades que podem surgir durante a exploração do desejo ao pragmatismo superficial das relações sexuais que são apresentadas pela pornografia é a pior maneira de conduzir essa descoberta. Sem falar nos problemas psicológicos de se expor ao consumo excessivo e precoce de “conteúdo adulto”.
Pelo mundo todo, uma série de especialistas em sexualidade têm se dedicado a estudar os efeitos da pornografia. Depressão, ansiedade, déficit de atenção e até disfunção erétil têm aparecido entre os transtornos ligados a compulsão por vídeos sexuais.
É claro que a pornografia pode ser uma ferramenta de estímulo para despertar a libido. Ela não deve ser entendida como a grande vilã da história. Mas, o problema é que os jovens estão usando a pornografia como parâmetro para as relações sexuais. Dando cada vez menos espaço para a descoberta individual do prazer e do desejo.
E, nem é preciso correr muito atrás, esse tipo de conteúdo circula livre e chega fácil por meio de grupos de whatsapp. O compartilhamento de “nudes”, como ficou conhecido o ato de enviar fotos eróticas por mensagens, é feito de maneira indiscriminada entre os jovens. Mas, diante desse comportamento fica a pergunta: o que é intimidade, própria e alheia, para essa nova geração?
Sexting
Conversar por mensagens online faz parte da vida de milhões de pessoas. Mas o que isso significa para os jovens que estão explorando seus limites sexuais e descobrindo a sexualidade?
Um estudo realizado pela Universidade de Calgary, no Canadá, reuniu dados de 39 pesquisas sobre sexting, feitas entre 1990 e 2016. De acordo com os resultados um em cada quatro adolescentes já enviou ou recebeu conteúdo sexual por mensagem de texto. 25% afirmou já terem recebido fotos ou vídeos íntimos de seus contatos. Enquanto menos de 15% admitiram já terem enviado conteúdo desse caráter.
É importante observarmos esse comportamento no intuito de instruir os jovens sobre o que é privacidade, intimidade. E sobre como o vazamento desse tipo de conteúdo pode causar danos irreparáveis para a autoestima, a autoimagem e para a socialização dos adolescentes. Infelizmente, as práticas de revenge porn, compartilhamento de conteúdo íntimo sem consentimento, cresce principalmente entre os adolescentes. Os jovens têm acesso ao material, mas pouca maturidade e consciência sobre o que significa preservar a própria imagem. E a imagem do outro.
Exposição
Muito relacionado ao tópico anterior, a exposição excessiva na internet também pode causar danos emocionais para os adolescentes. Ficar constantemente buscando validação para o corpo, para as decisões e ações que pretende tomar é um sinal de alerta. A construção da individualidade e a descoberta da personalidade precisam ter ambiente seguro para testar as possibilidade. Os gostos. Os desejos. Os sonhos. Compartilhar cada atividade, cada tomada de decisão e esperar pela aprovação ou reprovação alheia podem tornar o jovem mais confuso e ansioso nesse processo de individuação.
Sexo seguro e responsável
Tão importante como a exploração do desejo e o início da vida sexual é entender o que significa as relações sexuais para a saúde e para as responsabilidades sociais. No Brasil, os adolescentes costumam iniciar sua vida sexual entre os 13 e 17 anos. O pior de tudo é que fazer sexo desprotegido não parece algo grave para a maioria deles. Já que um terço dos jovens, entre 14 e 25 anos, afirmam não usar camisinha. A camisinha não é simplesmente um método contraceptivo, ela é o único agente contra uma doença sexualmente transmissível.
A educação sexual nas escolas e dentro das famílias talvez seja a única forma de conscientizarmos os adolescentes em relação aos perigos e danos à saúde. Sexo precisa ser feito com segurança e responsabilidade. Essa deve ser a mensagem!
Diante de tantos conflitos e distorções como fornecer ferramentas emocionais para que os jovens consigam lidar com esse momento de vida? Bom, não existe uma resposta única. Certamente, o diálogo, a informação e os espaços de confiança são caminhos indispensáveis para ajudarmos os adolescentes na descoberta da sexualidade diante do mundo digital. No próximo texto do blog vamos colocar o tabu para discussão e ampliar o debate sobre: Como iniciar uma conversa sobre sexo e sexualidade com adolescentes? não perca!