Falar de sexo não deveria ser algo tão incômodo, principalmente entre pais e filhos. Mas, apesar disso, a conversa é tabu na maioria dos lares. A falta de informação em casa e na escola fazem com o que os adolescentes busquem sanar a curiosidade na internet. E, é nesse ambiente pouco controlado que a maioria descobre e desenvolve sua sexualidade.

Em uma pesquisa feita pela Bayer em parceria com a UNIFESP, que entrevistou 1500 meninas de 16 a 25 anos, 41% das entrevistadas revelaram que  não conversam sobre sexo e sexualidade com os pais. De forma que a internet se tornou a principal responsável por preencher essa lacuna de curiosidade e informação entre os jovens.  Segundo um estudo norte-americano, 84% dos adolescentes usam a internet para se informar sobre temas de saúde, como puberdade, drogas, sexo e depressão. 

No entanto, a conversa com os pais é indispensável para a formação dos jovens, principalmente porque é dentro de casa que são criados e fortalecidos os principais valores e ensinamentos. As conexões entre pais e filhos irão formar o caráter e a personalidade. São os pais que podem fazer com que um assunto complicado se torne simples e natural, trazendo conforto e confiança sobre o tema.

Cada família tem sua maneira de conversar seus valores regras sendo, portanto, impossível criar um roteiro. Apesar disso, as dicas abaixo podem ajudá-los a encontrar um jeito confortável de tirar o tabu da frente e colocar no meio na sala.

Tome a iniciativa! O papo é reto e o primeiro passo deve ser seu

Antes de começar a conversa é importante normalizar o tema. Tratar o assunto como algo natural e criar um ambiente de confiança para que o jovem possa ouvir com curiosidade e atenção. Se a conversa nunca aconteceu é possível que o adolescente fique desconfortável. Se ele for uma pessoa tímida talvez queira inclusive fugir do tema. Mas, a verdade é que os adolescentes estão desejando ter alguém de confiança para falar sobre o assunto abertamente. E criar conexão com seus pais. 

Quando você se antecipa e inicia a conversa você passa uma mensagem clara de que está disposto a ouvir e falar sobre o assunto. Quase tudo pode ser um gatilho para começar o assunto. Como, por exemplo, uma notícia, um seriado, um livro. Outra alternativa é você provocar para que o assunto surja. Colocando um vídeo ou um filme para assistirem juntos. Se assistir junto for demais nesse primeiro momento. Compartilhe o conteúdo para que ele veja sozinho e depois pergunte o que achou. 

Explique sobre a saúde, mas a conversa precisa ir muito além do preservativo

Sem dúvida é fundamental que a saúde seja pauta nessa conversa. Explicar sobre o uso do preservativo para proteção e prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis, sobre métodos contraceptivos e sobre os processos biológicos do corpo são elementos indispensáveis. Mas, procure ir além e falar de sexo de uma maneira mais ampla e abrangente. Mostrando o quão saudável, prazeroso e natural o sexo é. Ele é parte da nossa personalidade. A nossa energia sexual rege muitos dos nossos desejos e sonhos. A nossa sexualidade influencia inclusive na maneira como nos comunicamos. Portanto, falar de sexo deve ser mais do que orientar sobre a saúde.

Quando crianças, os filhos costumam ter dúvidas simples como “de onde vem os bebês?”, “como ele foi parar na barriga da mamãe?”. Mas, com o tempo as dúvidas se tornam mais complexas. Na adolescência é comum os jovens terem curiosidade sobre o ato sexual. Como acontece. Se é doloroso. Se é demorado. Além de dúvidas sobre as sensações e sentimentos: a atração, o desejo, o tesão e o orgasmo.

Para criar um canal de confiança, os pais precisam sair desse lugar de distanciamento e se colocar vulneráveis para a conversa. Mostrando inclusive aspectos pessoais sobre a própria sexualidade. Ter um diálogo aberto com os filhos significa se livrar dos próprios tabus e esquecer os julgamentos. Nunca julgue. Nem imponha seus preceitos morais sobre as dúvidas, curiosidades e desejos de um jovem. Se o adolescente se sentir julgado ele talvez nunca se abra com você. Lá se foi a chance de construir um laço de confiança.

O poder do não, o respeito diante dos próprios desejos e do corpo do outro 

Em algum momento, a conversa precisa ficar séria para falar de respeito, limites claros e consentimento. A iniciação sexual é um momento de muita exploração e de descoberta, então é comum que os jovens não tenham tanta clareza sobre o que os excita, sobre seus próprios limites e desejos. Mas, é justamente por essa ser uma fase de descoberta, que a investigação sobre o próprio corpo e sobre o corpo alheio deve ser lenta e sempre observando os próprios limites e o limite do outro.

Toda relação sexual deve ser realizada no respeito mútuo. O consentimento, ou seja, a aprovação do parceiro sobre o que está acontecendo é a regra número 1. Ninguém deve ser obrigado a fazer algo que não quer, que não se sente confortável e que não deseja. Nesse sentido, ensine seu filho sobre respeitar o não da outra pessoa acima de tudo, e parar seja o que estiver acontecendo assim que a outra pessoa parar de se sentir confortável com a situação. No mesmo sentido, também ensine que ele não é obrigado a realizar os desejos e vontades da outra pessoa, seja por medo, pressão social ou por insegurança emocional.