Durante muitos anos estar casado era a única forma de ser sexualmente ativo dentro da sociedade. Com o passar do tempo essa regra social foi se desfazendo. Atualmente, é possível ter uma vida sexual ativa mesmo não estando em um relacionamento sério. Amizade colorida. Sexo casual. Sexo sem compromisso. Seja lá como você escolher chamar, os encontros casuais estão se tornando algo natural dentro da nossa sociedade. 

No entanto, apesar da vida sexual não precisar ser algo restrito a pessoas casadas ou em namoros longos, será que ela deve ser banalizada e tratada como algo descartável e sem envolvimento nenhum?

O sexo casual é objeto de estudo por todos aqueles que pesquisam, observam e debatem sobre a sexualidade humana. Mas, para analisar o que significa fazer sexo casual dentro da nossa sociedade, primeiro temos que entender nosso comportamento diante do sexo e da sexualidade como um todo.

 

O que o sexo representa socialmente?

Vivemos na sociedade do espetáculo e da superexposição. Com o advento da internet e das redes sociais, expor nossa intimidade e privacidade se tornou algo corriqueiro e até natural. Nesse mundo, onde tudo precisa ser algo memorável para ser eternizado na timeline, o desejo tornou-se nada mais do que um produto de consumo. 

Quanto mais a exposição e o espetáculo ganham relevância. Mais nos acostumamos a acompanhar o estilo de vida, as decisões e os desejos de outras pessoas. Nesse sentido, estamos constantemente observando, por meio das redes sociais, as narrativas de desejo e prazer sexual de outras pessoas. Além disso, também somos influenciados pelas propagandas. Pela música. Pelo cinema. Eles nos dizem o que sentir, o que desejar e o que fazer em relação a nossa sexualidade e desejo.

Ao fazermos nossas escolhas baseados no que vemos externamente, cada vez mais nos distanciamos da nossa sexualidade e daquilo que realmente representa nosso desejo e prazer. Responder perguntas como:

O que me atrai?

O que me desperta para o sexo?

Que tipo de relação eu quero ter?

O que me excita?

Tentando se distanciar das interferências externas é a melhor maneira de descobrir, de fato, o que é o sexo para você. E como a sua sexualidade se constrói e se desenvolve.

 

O sexo como status social

Na vida adulta, o sexo torna-se quase um termômetro de status. Na sociedade da performance sua frequência sexual, estilo, quantidade de parceiros, brinquedinhos e lugares inusitados parecem ajudar a definir como você é visto pelas pessoas. Por exemplo, se você está solteiro precisa provar sua solteirice e felicidade atendendo aos parâmetros sexuais que são “exigidos” para esse status social, o que significa ter muitos parceiros e  sexo casual.

Eu não estou condenando, pelo contrário, acredito que uma vida sexual ativa e saudável é algo capaz de estimular nossa criatividade, nossa paixão pela vida e alimentar nossos sonhos e força de realização. Mas, eu quero questionar  até que ponto as pessoas estão realmente seguindo seus desejos e impulsos íntimos e em que momento elas estão se perdendo, cedendo à pressão externa e transformando sua sexualidade em um produto de consumo.

Isso porque faz parte desse produto de consumo, dessa narrativa social, tratar o sexo casual como algo sem importância, sem relevância e sem envolvimento com o parceiro. Afinal, se não estamos em um relacionamento não precisamos nos entregar e nos preocuparmos com o outro. Mas, será?

 

Permita-se ter intimidade mesmo não estando em um relacionamento sério!

Não é porque o sexo é casual que ele precisa ser sem afeto e sem envolvimento íntimo. As pessoas têm tanto medo de parecerem carentes, de passar sinais errados em relação ao que desejam e esperam do parceiro que elas se fecham para as possibilidades e para a experiência. Nesse cenário, o sexo casual se torna sexo sem afeto, sem envolvimento e sem conexão. 

Na minha experiência enquanto estudiosa da sexualidade humana posso afirmar que  é possível sentir prazer sem se comprometer em um relacionamento. Mas, é impossível sentir prazer sem se abrir e  se conectar com a outra pessoa.

 

A coragem de ser imperfeito!

Segundo a pesquisadora norte americana Brene Brown, a vulnerabilidade é a única chave para a construção de vínculo entre as pessoas. Somente quando nos expomos verdadeiramente somos capazes de construir uma ligação de intimidade. Se você vai para o encontro sexual sem a disponibilidade de se abrir para viver aquela experiência. Conhecer a outra pessoa e se entregar. A chance desse ser um encontro positivo é muito baixa. 

Desejar a outra pessoa, se encantar por ela, admirar suas qualidades e sua personalidade fazem parte de uma experiência sexual prazerosa. Mas, como é possível criar esse vínculo se ambos vão para o encontro com medo de se mostrarem vulneráveis?

Outra grande questão que está arruinando as possibilidades do sexo casual ser algo positivo é a falta de responsabilidade emocional daqueles que não desejam se envolver. As pessoas não são descartáveis. Você não precisa querer casar com alguém para ser atencioso, cuidadoso e emocionalmente disponível. Estamos vivendo a era do amor líquido, onde tudo é descartável e efêmero, inclusive nossos relacionamentos. E, cada vez mais as pessoas se apoiam no fato do sexo casual ser algo sem compromisso para poderem adotar uma postura egoísta e individualista dentro das relações. 

 

Pare de ter medo e encare a vida e o sexo de maneira mais livre e mais leve!

Não importa se o sexo é casual ou dentro de um relacionamento estável. Enquanto as pessoas não aprenderem a viver sua sexualidade de maneira livre. Sem pressão. Sem performance e com disponibilidade para se entregarem, elas estarão deixando de experimentar os prazeres, a potência criativa e o autoconhecimento que uma vida sexual saudável é capaz de proporcionar.