Autoritarismo e cobranças excessivas afetam a saúde mental dos jovens
Fragilidade emocional, frustração, falta de estrutura familiar, pressão para escolher uma profissão, passar no vestibular, iniciar uma carreira. Todos esses fatores afetam a saúde mental dos jovens e fazem com que a adolescência seja uma fase difícil, de muita ansiedade e sofrimento emocional. Por isso, é cada vez mais raro encontrar um adolescente que não conviva com essas preocupações diariamente. Situação que se torna ainda pior quando esses conflitos se transformam em algum tipo de transtorno psíquico. Como, por exemplo, depressão ou ansiedade. Por não conseguirem entender e gerenciar as emoções que estão vivendo nessa fase da vida os jovens estão cada dia mais vulneráveis.
Segundo um levantamento realizado pelo psiquiatra Fernando Asbahr, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, que reuniu pesquisas científicas e dados do mundo todo, cerca de 10% das crianças e adolescentes já estão desenvolvendo quadros de ansiedade. Ele ressalta ainda que, ao não identificar e tratar esses quadros ansiosos em alguns anos esses jovens serão muito mais propensos a distúrbios de depressão e outros quadros psíquicos.
Contudo, não é fácil estabelecer uma relação de causa e efeito sobre o que está deixando os adolescentes tão ansiosos. Os transtornos e as disfunções sociais são difíceis de serem tratados justamente porque envolvem mais de uma causa e são constituídos através de uma trama de fatores. Mas, mesmo assim, é possível afirmar com clareza que o ambiente escolar e familiar de autoritarismo e cobrança excessiva são grandes gatilhos no comprometimento da saúde mental desses jovens.
Adolescentes não devem ser tratados como adultos!
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a adolescência compreende o período que vai dos 10 aos 20 anos. No Brasil, o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – delimita essa fase da vida entre os 12 e 18 anos. Contudo, alguns estudos afirmam que o cérebro só termina sua formação aos 21. Fato é que independente de estabelecermos uma data limite para o amadurecimento completo dos jovens temos que concordar que durante essa fase não podemos tratar os adolescentes como adultos.
O desenvolvimento cognitivo da adolescência, o despreparo emocional e a descarga de novos hormônios fazem com os jovens tenham pouca capacidade de lidar com as frustrações. Ao não conseguirem cumprir com as expectativas impostas pelos pais, família, escola, amigos e a sociedade, os adolescentes podem desenvolver transtornos de diferentes tipos.
Por isso, nós, enquanto adultos, orientadores, pais, psicólogos, precisamos redefinir nossas expectativas diante desses jovens. É claro que delimitar responsabilidades, cobrar resultados e impor limites é importante. Mas, ao mesmo tempo, também é essencial estar sempre observando se o que está sendo pedido está em conformidade com a idade e o repertório de cada um. Um bom exemplo é a quantidade de atividades extracurriculares que, muitas vezes, são impostas pelos pais e professores. O estresse em performar bem em cada um desses muitos afazeres pode inclusive desencadear uma síndrome de burnout.
Amadurecimento das habilidades cognitivas
Além das estimativas, sabemos que o amadurecimento é um processo contínuo que não termina com o fim da adolescência. O crescimento e o aprimoramento das nossas habilidades emocionais acontece ao longo de toda a vida. Por isso, é tão importante que desde a infância a gente possa aprender a lidar com as nossas emoções. E, saber reconhecer e nomear os sentimentos é um dos primeiros passos para a maturidade emocional.
Já durante a adolescência os jovens estão reconfigurando seus sistemas de recompensa e motivação. Tudo que dava prazer na infância deixa de funcionar. Agora é preciso redescobrir aquilo que faz sentido e trás felicidade. Diante disso, surgem os quadros de mudança de humor, irritação, impaciência, tédio e frustração. Durante essa fase, onde é preciso redescobrir o que dá prazer e satisfação, os jovens estão muito mais propensos ao abuso de drogas. Uma vez que essas causam grande euforia e estímulos ao cérebro. Nesse processo, eles passam a explorar novos ambientes, novos amigos, novas experiências, novas regras sociais. Tudo na busca de coisas que façam sentido diante da personalidade que eles estão buscando desenvolver.
Por isso, é tão importante acompanhar esse processo de redescoberta. Fornecer novas ferramentas e caminhos. Estar presente para apresentar oportunidades. Impor limites e delimitar o que é próprio e impróprio diante da idade. Essa fase de testar novos limites e novos prazeres pode ser muito saudável. Mas pode ser também de muita angústia. Por isso, ter espaços de diálogo e conexão com os pais faz tanta diferença na vida dos jovens.
Promovendo a saúde mental dos jovens
Reconhecer a importância de desenvolver a resiliência emocional já é um grande passo para desenvolver a saúde mental dos adolescentes. Existem muitas maneiras de incentivar essa resiliência emocional. A melhor delas é promover ambientes seguros onde os jovens possam aprender, testar e errar de maneira controlada. O mais importante é mostrar que erros e acertos fazerem parte da vida de todos. A maneira como crescemos diante das circunstâncias é mais importante do que o resultado positivo.
Criar espaços de diálogos para que os jovens se sintam acolhidos para tirar dúvidas, anseios e medos que enfrentam diante da vida. Tornar-se um ponto de referência com quem o adolescente pode conversar sem se sentir julgado. Não impor pressões e expectativas que façam esse jovem se sentir super estressado para cumpri com suas “obrigações” é essencial
Além disso, outra ferramenta poderosa para acompanhar o desenvolvimento desses adolescentes é a terapia. Já que no consultório eles têm um espaço aberto para elaborar seus sentimentos, entender suas emoções, acompanhar seu próprio crescimento e amadurecimento e ainda estabelecer uma profunda conexão consigo mesmo.
Em um mundo onde a pressão e a cobrança estão tornando os adolescentes precocemente ansiosos, a terapia não só oferece uma oportunidade para tratar esses transtornos, como também contribui para o fortalecimento da personalidade e o desenvolvimento da resiliência emocional.