Volta às aulas: coloque a sexualidade na pauta escolar!
As atividades escolares estão voltando essa semana. Em meio a muita agitação das crianças e dos adolescentes, nós que somos pais, professores e orientadores pedagógicos já estamos preparando o terreno para conduzi-los em mais um ciclo de aprendizagem e desenvolvimento. A volta às aulas é sempre um período de muita ansiedade entre os jovens. A cada novo ciclo eles vivem um mix de expectativa e medo em relação às experiências que estão por vir. Presenciando assim um turbilhão de emoções e sentimentos.
Para uns, 2020 será ano de começar o ensino médio. Para outros, ano de vestibular. Tem ainda os que irão iniciar agora em janeiro a tão sonhada faculdade e os que estão em fase cursinho. Mas, uma coisa é certa, independente da fase escolar que esteja, todos irão, ao longo do ano, testar, aprender e desenvolver sua sexualidade.
Por isso, precisamos tratar a sexulidade dos adolescentes como um direito. Não como um tabu a ser ignorado. A escola, o cursinho, a faculdade e o ambiente familiar precisam entender que, mesmo velando o tema e tratando os jovens como inaptos para as descobertas sexuais, isso é algo inerente à vida. Eles estão constantemente conhecendo, expondo, analisando e experimentando a sexualidade. E, se isso é algo tão natural para os processos do corpo, da psique e das relações humanas por que continuamos a ignorar a sexualidade dos jovens? Nosso papel enquanto adultos é justamente orientar e guiar os adolescentes. Oferecendo um ambiente de escuta que seja seguro e responsável. Afinal, só dessa forma, eles poderão ampliar a própria capacidade de conhecimento e aprendizagem sobre o que é vida e sexualidade.
VIVA SEXUALIDADE
O projeto Viva Sexualidade, que nasceu em 2017, fala sobre como a sexualidade humana é vivida em ciclos de movimento, expansão e contração. Ela cresce em espiral através do tempo e pode ser observada em todas as fases da vida. Na infância, quando estamos descobrindo nosso corpo e nos desconectando de nossas mães. Na adolescência, com o início da puberdade da produção dos hormônios sexuais e do amadurecimento dos órgãos reprodutivos. Na vida adulta e também na terceira idade.
Dentro desse processo natural de desenvolvimento algumas fases podem causar mais ou menos estresse. Para os adolescentes é muito comum que essa seja uma fase de grande ansiedade. Já que na nossa sociedade é muito comum reprimirmos as conversas em torno do tema. Tratarmos o assunto como um tabu e negarmos a condição natural dos jovens dentro do processo de descoberta da sexualidade.
Ser adolescente no mundo digital é ter que viver uma fase de transformações físicas, sociais e emocionais conectado à internet 24 por dia, 7 dias por semana. A chamada geração Z vive muitos os conflitos internos e externos durante a adolescência. Para nós, que já passamos dessa fase, é quase impossível entender o quanto o ambiente digital está interferindo na construção da psique dos jovens.
A descoberta da sexualidade
Existem muitas formas. Mas, a que eu considero mais assertiva é criar ambientes e espaços para que os adolescentes se sintam seguros em compartilhar suas experiências. Tirar dúvidas. Conversar sobre suas curiosidades. É fundamental que eles fiquem confortáveis para compartilhar e ouvir sem se sentirem julgados por seus pensamentos e atitudes. E cabe a nós iniciarmos esse relacionamento. Criarmos esses espaços dentro de casa, no ambiente escolar, no consultório, etc. Colocar as próprias experiências e se mostrar vulnerável é uma excelente maneira de construir esse vínculo afetivo e de confiança.
Projeto vida adolescente
No ano passado, tive a oportunidade de realizar o projeto vida adolescente dentro do colégio Maple Bear em São Paulo. Foram seis meses de trabalho. Junto com orientadores pedagógicos e os próprios jovens. Fomos capazes criar espaços de conversa sobre: MUNDO DIGITAL, SEXUALIDADE, REGULAÇÃO DAS EMOÇÕES. Falamos sobre os perigos da superexposição na internet. A dependência causada pelas redes sociais. O bullying e a exclusão social que os jovens sofrem por meio dessas ferramentas e que se estende para o convívio presencial. Temas como: pornografia, sexting, namoro, vínculos afetivos, aspectos biopsicossociais da sexualidade também foram abordados nesses encontros. Como resultado, conseguimos gerar muito mais conhecimento e esclarecimento para os adolescentes que participaram dos debates.
É claro que não é uma tarefa fácil, existem inúmeros medos e anseios dos pais em abrir espaço para esse tipo de conversa. Acho que o maior deles é saber que não podem controlar as experiências dos filhos e acreditarem que ao evitar o assunto estão preservando a inocência e a pureza das crianças. Mas, a verdade é que, como dito anteriormente, a sexualidade é um processo constante e natural. Os adolescentes vão inevitavelmente testar seus desejos e vontades e descobrir o sexo em algum momento, Por isso, orientar e guiar essas experiências, enxergando que sexo e sexualidade são coisas diferentes, é a melhor maneira de evitar que esse processo seja traumático na vida dos jovens.